Preparação psicológica: um dos segredos para o sucesso da seleção brasileira em 2014
Sexta-feira, 2 de julho de 2010. Brasília e o resto do país estavam em  peso assistindo à eliminação da seleção brasileira no Mundial da África  do Sul, novamente nas quartas de final, como em 2006. Após ganhar a Copa  América e a Copa das Confederações nos anos anteriores, o Brasil era um  dos favoritos ao título mundial, mas, no entanto, definhou frente à  Holanda. Ficou nítido que o descontrole emocional da equipe foi o fator  decisivo para a derrota.
Para o psicólogo Luciano Lopes,  especialista e mestre em Psicologia do Esporte pela Universidade de  Brasília (UnB), é preciso realizar um trabalho emocional contínuo e de  longo prazo com os jogadores que defenderão o Brasil em 2014. Em  entrevista ao blog De Olho em 2014, Luciano fala sobre a atuação do  psicólogo do esporte e sobre o trabalho que pode ser desenvolvido com a  seleção brasileira para o mundial.
O Mundial de Futebol é um dos  eventos esportivos mais importantes do mundo. A tradição brasileira no  esporte e, sobretudo, na competição, somada às expectativas de milhões  de torcedores fanáticos, tornam enorme o chamado “peso da camisa”. Como  preparar o atleta para enfrentar um momento como esse, de tão grande  responsabilidade?
A preparação psicológica não pode ser pontual,  precisa estar inserida em todo o planejamento da comissão técnica. Não  se deve olhar para a preparação psicológica como algo a ser utilizado em  momentos de dificuldades ou no momento da competição. A preparação  emocional é semelhante, por exemplo, à preparação física: precisa de um  trabalho a médio e longo prazo, o atleta tem que se envolver, ter  disciplina e participar ativamente desse processo. Em suma, a melhor  preparação é a que será implementada desde agora, identificando as  características dos jogadores, com intuito de atuar, inclusive, junto a  seus clubes para obter avanços na área emocional.
O que pode  afetar psicologicamente a cabeça de um jogador? Por estar jogando em sua  pátria, o jogador pode ficar emocionalmente abalado?
Depende de  como o jogador encara o fato de jogar em casa. Alguns podem avaliar  isso como algo ameaçador – “E se eu não conseguir? E se perdermos?” – Em  contrapartida, para outros, a mesma situação pode representar um grande  estímulo – “Vou corresponder a todo o apoio da torcida. Essa é a chance  de mostrar meu potencial para o Brasil e o mundo”. A mensagem principal  é: por mais que a situação objetiva seja a mesma para todos, a  percepção de cada atleta é subjetiva, ou seja, precisamos conhecer cada  um para avaliar como irá encarar a responsabilidade de jogar um Mundial  em casa.
O Brasil, por ter uma longa tradição no futebol,  entra em qualquer competição como favorito ao título. Na África do Sul  não foi diferente, mas o Brasil passou longe de corresponder às  expectativas. Contra a Holanda ficou visível o descontrole psicológico  do time. Como evitar que se repita em 2014 tudo o que aconteceu na  África do Sul?
Sem dúvida, essa não é uma situação que poderia  ser resolvida durante a Copa. A maneira que o Dunga conduziu o grupo foi  a grande responsável por esse descontrole. Quando ele optou por isolar o  grupo da imprensa, família e torcedores, ele aumentou a  responsabilidade pela obtenção do resultado. Quando se cria um clima  constante de embate (mais especificamente com a imprensa), a mensagem  que chega aos jogadores é: estão todos contra nós, temos que nos superar  e mostrar nosso valor. Em momentos de adversidade, o atleta imagina as  consequências do fracasso e passa a se comportar como se o fracasso já  tivesse acontecido. Daí o descontrole emocional, inclusive em atletas  que não apresentam esse perfil em seus clubes. O Dunga cometeu um erro  básico: acho que o combustível que funcionou bem com ele como jogador  também alimentaria adequadamente seu grupo de jogadores. Mais uma vez,  não há fórmulas pra conduzir um grupo, precisamos estar em consonância  com as características de cada atleta.
A dita renovação da  Seleção Brasileira pelo técnico Mano Menezes (com média de idade dos  jogadores entre 23,1 anos) exigirá uma preparação especial para os  jogadores mais novos? Como eles devem ser orientados?
Via de  regra, jogadores mais novos precisam de ambiente mais estável para  render todo seu potencial. Quando falo em ambiente estável, quero dizer  dar suporte emocional aos atletas, criar condições para jogarem à  vontade (como fazem em seus clubes), minimizar as pressões que a seleção  sofre costumeiramente. Alguns jogadores, entretanto, por suas  características pessoais, não se encaixam nesse perfil. O Neymar é um  exemplo. No caso dele, talvez o treinador precise estar atento à sua  perda de foco, de concentração, em vez de abordar o controle da  ansiedade. Não é possível prescrever uma intervenção que dê conta de  todos os atletas, mesmo daqueles que possuem semelhanças (idade, origem,  história etc.).
Em sua opinião, qual o papel do Mano Menezes e da comissão técnica da seleção nesta preparação psicológica para o Mundial?
O  papel do Mano é de criar as condições para o atleta desempenhar seu  melhor futebol. Para isso ele precisa se cercar de profissionais  competentes, nas diferentes áreas das ciências do esporte. Vejo como  função primordial a delegação de funções, sem tentar se responsabilizar  por intervir em áreas que não são de sua formação (psicologia do  esporte, por exemplo). A melhor maneira de ter uma preparação  psicológica adequada é contar com um profissional capacitado nessa área,  como o Mano já sinalizou que irá fazer. É importante frisar que a  psicologia do esporte não é a resposta para todos os males e nem  garantia de sucesso, é um fator, dentre tantos, que contribui para  obtenção dos objetivos.
Você acredita que a mescla de jogadores  mais experientes com os mais novos é uma boa alternativa para se evitar  instabilidades emocionais no grupo?
Não necessariamente. Veja o  caso do Zidane na Copa de 2006. Na ocasião, ele era um dos mais  experientes da França e nem por isso comportou-se de forma equilibrada. A  estabilidade emocional não envolve apenas a idade, existem outros  fatores que precisam ser considerados. Por exemplo, o clima que o  treinador cultiva dentro da equipe, as características pessoais do  atleta e a interferência da torcida, dentre outros. Portanto, o fato de  ser mais experiente não é um garantia de equilíbrio emocional, o fato  relevante é conhecer as características dos atletas que estão nos planos  da comissão. Por isso, o trabalho do psicólogo do esporte que integrar a  seleção é criar um banco de dados com avaliações psicológicas dos  atletas que passarem pela equipe, no intuito de dar suporte às decisões  do treinador.
Clique aqui para acesso à reportagem original.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Reportagem concedida ao portal Terra
Postado por
Luciano Lopes
às
23:50
 
Assinar:
Postar comentários (Atom)
 


2 comentários:
Muito boa entrevista! Parabêns...
Obrigado
Postar um comentário