Segue a íntegra da entrevista que concedi ao portal da UnB.
UnB Agência
Futebol - 17/06/2010
Como Dunga pode levar o Brasil ao Hexa
Pesquisa da Universidade de Brasília mostra como o estilo do técnico influencia nas decisões tomadas pelos jogadores
Francisco Brasileiro - Da Secretaria de Comunicação da UnB
O técnico é figura polêmica no mundo do futebol. Dunga e Maradona que o digam. As posturas fechada de um e liberal do outro já provocaram muitas discussões entre os amantes do esporte. O que pouca gente sabe é que as duas formas de conduzir um time de futebol podem dar certo. Dissertação defendida pelo psicólogo Luciano Lopes na Faculdade de Educação Física mostra que o estilo de liderança do treinador é determinante no perfil de decisão dos jogadores.
A pesquisa aplicou dois questionários em equipe profissional que participou do XI Campeonato de Futebol Profissional da Segunda Divisão de Brasília de 2007. O objetivo do pesquisador foi identificar como os estilos de liderança dos treinadores influenciavam na tomada de decisão dos jogadores durante as partidas. Para isso, Luciano selecionou cinco estilos diferentes de liderança e três perfis de jogadores para aplicação dos questionários.
Entre os estilos de lideranças, o psicólogo identificou os técnicos que ele chamou de democráticos, aqueles que ouvem a opinião de cada jogador antes de tomar as decisões, e os autocráticos, aqueles que decidem sem levar em conta a opinião dos atletas. Selecionou ainda os técnicos que costumam recompensar o esforço do time, aqueles que consideram o lado humano dos jogadores e os que planejam atividades para melhorar o desempenho dos atletas.
Luciano Lopes verificou que o time estudado não funciona com o estilo autoritário de liderança. Por outro lado, outros como o democrático tiveram melhor resultado. O psicólogo acredita que, no Brasil, o técnico que escuta os jogadores e leva as opiniões deles em consideração consegue que a equipe renda melhor. “Acredito que isso se deve à cultura do brasileiro: Todo mundo se sente um pouco técnico aqui e por isso quer ser ouvido”, defende.
Luciano Lopes acredita que o estilo de Dunga é o autoritário, um tipo de comando que funciona muito bem no exterior. “Testes feitos na Europa e nos Estados Unidos apontaram esse estilo como o que traz mais rendimento para os jogadores”, explica o pesquisador. Como a maioria dos nossos atletas está acostumada à disciplina dos times europeus, o comportamento rígido de Dunga pode trazer resultados positivos. “Ele trouxe para copa jogadores que se dão bem com o estilo de liderança dele, pois são mais disciplinados e capazes de seguir o que está pré-determinado.” Segundo ele, jogadores que gostam mais de improvisar, como o Ronaldinho Gaúcho, não se dariam bem na equipe de Dunga.
Isso não significa que o estilo de Maradona, que busca uma aproximação maior com os jogadores, seja errado. “Ele adota um comportamento mais afetivo que pode ajudar a manter o grupo unido em torno de um objetivo”, explica. Luciano acrescenta que um técnico dificilmente adota um estilo de liderança único. “Dunga pode, em determinado momento, adotar uma postura de suporte social”, diz, sobre o estilo em que o treinador preocupa-se com as questões pessoais do jogador, de forma a garantir o bem-estar do atleta.
Os jogadores escolhidos para responder os questionários foram divididos entre os seguintes perfis: os que assumem a responsabilidade pelos resultados em campo, os que buscam seguir as orientações do técnico para tomar decisões e os que enfrentam grande estresse no momento de decidir. “O jogador ansioso tem mais dificuldade de tomar decisão”, explica Luciano.
Um dos questionários foi desenvolvido na Espanha e busca saber o que leva os atletas a tomarem uma decisão. Este antes de ser aplicado precisou ser validado, ou seja, ser testado para ver se vale para a realidade brasileira. Para isso foi aplicado em atletas, principalmente de futebol, de sete estados diferentes e do Distrito Federal. O outro já estava validado e visa colher informações sobre como o atleta vê seu treinador.
Segundo Luciano, é impossível entender esse processo de tomada de decisão do jogador sem saber como o técnico lidera o grupo. “Se o treinador for muito crítico, por exemplo, o jogador pode hesitar mais em fazer uma jogada”. Ele alerta, contudo, que não existe fórmula pronta. “Isso depende da realidade e do contexto específico em que se dá a relação atletas-treinador”, explica.
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